Psicólogo alerta que as drogas estão em todas as classes, mas que os governos não atendem quem mais precisa – a periferia
“Dependência química é a doença mais democrática que existe. Pena que as autoridades não agem com a mesma democracia no combate e prevenção.” Com esta declaração, o psicólogo Dionísio Banaszewski, especialista na orientação, prevenção e combate ao uso de drogas, alerta para a importância de uma presença maior do poder público nas políticas de prevenção e combate às drogas, principalmente nos bairros mais pobres das cidades.
As drogas estão cada vez mais presentes em todas as classes sociais. Jovens ricos e pobres, de escolas particulares e públicas, são seduzidos a cada dia pelo tráfico e se envolvem com o uso de drogas lícitas e ilícitas. Mas quem mais sofre os efeitos desse alastramento são os mais pobres, segundo denuncia o especialista. “O sofrimento com as drogas é generalizado: famílias se desestruturam, a violência se espalha... Mas o problema é ainda mais sensível nas populações menos assistidas, porque boa parte das ações preventivas e de orientação não chegam até a periferia”, argumenta.
O especialista denuncia que o poder público, nas suas mais diversas esferas (federal, estaduais e municipais) ainda age muito no combate e pouquíssimo na prevenção ao uso de drogas. “Antes de ser um problema de polícia, as drogas são um problema social e cultural” comenta. “E o que primeiro chega às classes mais desassistidas é a repressão”, analisa. Dionísio defende que a melhor arma para se evitar o uso abusivo de álcool e drogas é a informação.
“Infelizmente, os dois últimos lugares a que chega o dependente químico são a Justiça e o psicólogo, quando deveria ser o contrário”, compara. Quando chega à Justiça, o dependente já cometeu algum tipo de delinquência que o levou às mãos da polícia. Se houvesse um trabalho preventivo, a violência não se instalaria, de acordo com a visão de Dionísio Banazsewski. Da mesma forma, a preparação psicológica deveria ser preventiva e para toda a família. “Infelizmente o que a gente vê são autoridades e profissionais envolvidos na questão falando em recuperação do usuário, sem sequer discutir a questão da prevenção. O trabalho preventivo é o único que pode, de fato, promover uma mudança cultural que leve à redução do problema social das drogas”, conclui o especialista.
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segunda-feira, 7 de novembro de 2011
sábado, 5 de novembro de 2011
Política de drogas ilícitas na Alemanha
Em boa parte de estados alemães foram criadas políticas progressistas de drogas, muito mais humanas e respeitosas
A Universidade de Hamburgo promoveu recente curso sobre Tendências Criminológicas Contemporâneas, tendo como coordenador o respeitado criminólogo alemão Sebastian Scheerer. O objetivo deste escrito é apresentar uma síntese da política de drogas daquela cidade-Estado norte alemã.
Até dez anos atrás, tal política era semelhante à brasileira: combate violento ao tráfico, exclusão assistencial aos dependentes e pouquíssimos resultados efetivos na diminuição do consumo. Perceberam, todavia, que enquanto houvesse alguém da classe média ou alta a querer usar droga, haveria quem, normalmente da classe baixa, estivesse disposto a correr o risco de morrer para fornecê-la, em decorrência dos elevados ganhos econômicos que o tráfico propicia. Igualmente, alcançaram que estavam excluindo da proteção do Estado os dependentes, que eram obrigados a viver no submundo, na exclusão e na marginalidade. Além disso, aumentavam os casos de aids e hepatites, doenças que se transmite ao compartilhar seringas. Havia, ainda, preocupação com a exposição da polícia à corrupção, visto que essa tem de trabalhar de modo secreto, infiltrada, gerando amizades e comprometimentos de difícil retorno. Ademais, as ações violentas de lado a lado importavam em inúmeras perdas humanas, sem qualquer resultado concreto e efetivo. Constataram, igualmente, que muitos jovens acorriam às drogas em decorrência da proibição, pois têm uma propensão natural, especialmente na adolescência, à contestação e à transgressão.
Diante desse complexo quadro, em boa parte de estados alemães foram criadas políticas progressistas de drogas, muito mais humanas e respeitosas da dignidade da pessoa, tal qual ocorreu, guardadas algumas diferenças, por outros países europeus, sem alarde ou propaganda, como os casos de Suíça, Holanda, Inglaterra e Portugal. Trata-se de uma mudança radical de enfrentamento. A despeito de não deixarem de criminalizar o tráfico, focam a ação no tratamento ao usuário. Assim, quando a polícia de Hamburgo encontra alguém com droga, há o encaminhamento desse cidadão a um espaço público, que depois de avaliação do caso, por equipe transdisciplinar, passa ele a dispor de um local para consumi-la livremente. Pode ele até receber – do Estado – drogas sintetizadas, como heroína e metadona, sem a exigência de qualquer contrapartida em relação ao seu vício. Caso o paciente queira deixar a dependência, também o Estado lhe presta todo o auxílio, inclusive com internação em clínica médica de desintoxicação, sem qualquer custo.
Trata-se de uma política que está enfrentando de modo mais racional a questão das drogas, sem o apego a falsos moralismos. Essa mudança, a despeito de encontrar resistência em setores mais conservadores, processa em Hamburgo uma grande revolução social, que vem promovendo paulatina diminuição do consumo e efetiva redução do tráfico de drogas, pois não há traficante que consiga competir com o fornecimento da droga pelo Estado; tirou dependentes da rua e os colocou em espaços públicos, com amplo monitoramento de saúde; reduziu os casos de intoxicação, problemas pulmonares e overdose, pois há efetiva atenção do Estado e a droga é pura, quando por esse fornecida; permitiu o retorno de dependentes ao trabalho, a despeito do uso que fazem, que fica estabilizado; vem reduzindo os casos de aids e hepatites, doenças mortais e que sempre estão próximas aos usuários, pois o Estado fornece gratuitamente seringas; vem fazendo com que os adolescentes tenham uma outra visão das drogas, não mais como algo glamouroso, pois as salas são espaços simples; diminuiu os crimes patrimoniais a níveis ínfimos, já que o dependente não mais precisa atacar o patrimônio alheio, nos momentos de crise de abstinência, para conseguir dinheiro; reduziu a violência policial em Hamburgo. Aliás, recente estatística anunciou que no ano de 2010, a polícia de toda a Alemanha desferiu 37 tiros contra alvos humanos, sendo apenas dez letais.
Sabe-se que a importação pura e simples de um padrão de política de um lugar para outro nem sempre propicia os resultados esperados. Todavia, a experiência de Hamburgo demonstra a necessidade de o modelo brasileiro ser repensado. É inadmissível persistir tanta violência, desatenção ao ser humano e falta de inteligência na atual política de drogas ilícitas do Brasil.
Luiz Fernando Tomasi Keppen, mestre em Direito pela UFPR, é juiz de Direito.
Tomei a liberdade de postar essa opinião por acha-la fundamental em nossas discussões e levanto alguns questionamentos:
Qual a nossa realidade comparada à Alemanha?
Que passos temos que dar para implantarmos algo semelhante?
Tendo a nossa realidade cultural, latina programas como esse seriam possíveis?
O nosso Governo esta apto a esse nível?
Fica o desafio para debatermos!!!
A Universidade de Hamburgo promoveu recente curso sobre Tendências Criminológicas Contemporâneas, tendo como coordenador o respeitado criminólogo alemão Sebastian Scheerer. O objetivo deste escrito é apresentar uma síntese da política de drogas daquela cidade-Estado norte alemã.
Até dez anos atrás, tal política era semelhante à brasileira: combate violento ao tráfico, exclusão assistencial aos dependentes e pouquíssimos resultados efetivos na diminuição do consumo. Perceberam, todavia, que enquanto houvesse alguém da classe média ou alta a querer usar droga, haveria quem, normalmente da classe baixa, estivesse disposto a correr o risco de morrer para fornecê-la, em decorrência dos elevados ganhos econômicos que o tráfico propicia. Igualmente, alcançaram que estavam excluindo da proteção do Estado os dependentes, que eram obrigados a viver no submundo, na exclusão e na marginalidade. Além disso, aumentavam os casos de aids e hepatites, doenças que se transmite ao compartilhar seringas. Havia, ainda, preocupação com a exposição da polícia à corrupção, visto que essa tem de trabalhar de modo secreto, infiltrada, gerando amizades e comprometimentos de difícil retorno. Ademais, as ações violentas de lado a lado importavam em inúmeras perdas humanas, sem qualquer resultado concreto e efetivo. Constataram, igualmente, que muitos jovens acorriam às drogas em decorrência da proibição, pois têm uma propensão natural, especialmente na adolescência, à contestação e à transgressão.
Diante desse complexo quadro, em boa parte de estados alemães foram criadas políticas progressistas de drogas, muito mais humanas e respeitosas da dignidade da pessoa, tal qual ocorreu, guardadas algumas diferenças, por outros países europeus, sem alarde ou propaganda, como os casos de Suíça, Holanda, Inglaterra e Portugal. Trata-se de uma mudança radical de enfrentamento. A despeito de não deixarem de criminalizar o tráfico, focam a ação no tratamento ao usuário. Assim, quando a polícia de Hamburgo encontra alguém com droga, há o encaminhamento desse cidadão a um espaço público, que depois de avaliação do caso, por equipe transdisciplinar, passa ele a dispor de um local para consumi-la livremente. Pode ele até receber – do Estado – drogas sintetizadas, como heroína e metadona, sem a exigência de qualquer contrapartida em relação ao seu vício. Caso o paciente queira deixar a dependência, também o Estado lhe presta todo o auxílio, inclusive com internação em clínica médica de desintoxicação, sem qualquer custo.
Trata-se de uma política que está enfrentando de modo mais racional a questão das drogas, sem o apego a falsos moralismos. Essa mudança, a despeito de encontrar resistência em setores mais conservadores, processa em Hamburgo uma grande revolução social, que vem promovendo paulatina diminuição do consumo e efetiva redução do tráfico de drogas, pois não há traficante que consiga competir com o fornecimento da droga pelo Estado; tirou dependentes da rua e os colocou em espaços públicos, com amplo monitoramento de saúde; reduziu os casos de intoxicação, problemas pulmonares e overdose, pois há efetiva atenção do Estado e a droga é pura, quando por esse fornecida; permitiu o retorno de dependentes ao trabalho, a despeito do uso que fazem, que fica estabilizado; vem reduzindo os casos de aids e hepatites, doenças mortais e que sempre estão próximas aos usuários, pois o Estado fornece gratuitamente seringas; vem fazendo com que os adolescentes tenham uma outra visão das drogas, não mais como algo glamouroso, pois as salas são espaços simples; diminuiu os crimes patrimoniais a níveis ínfimos, já que o dependente não mais precisa atacar o patrimônio alheio, nos momentos de crise de abstinência, para conseguir dinheiro; reduziu a violência policial em Hamburgo. Aliás, recente estatística anunciou que no ano de 2010, a polícia de toda a Alemanha desferiu 37 tiros contra alvos humanos, sendo apenas dez letais.
Sabe-se que a importação pura e simples de um padrão de política de um lugar para outro nem sempre propicia os resultados esperados. Todavia, a experiência de Hamburgo demonstra a necessidade de o modelo brasileiro ser repensado. É inadmissível persistir tanta violência, desatenção ao ser humano e falta de inteligência na atual política de drogas ilícitas do Brasil.
Luiz Fernando Tomasi Keppen, mestre em Direito pela UFPR, é juiz de Direito.
Tomei a liberdade de postar essa opinião por acha-la fundamental em nossas discussões e levanto alguns questionamentos:
Qual a nossa realidade comparada à Alemanha?
Que passos temos que dar para implantarmos algo semelhante?
Tendo a nossa realidade cultural, latina programas como esse seriam possíveis?
O nosso Governo esta apto a esse nível?
Fica o desafio para debatermos!!!
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
DECISÃO DO STF CONFIRMA QUE DIRIGIR BÊBADO É CRIME, MESMO QUANDO O CONDUTOR NÃO PROVOCA ACIDENTES
Especialista no combate ao uso de drogas afirma que a decisão do STF deve servir de alerta para se trabalhar a prevenção ao uso de álcool
A decisão do Supremo Tribunal Federal de negar habeas-corpus a um motorista da cidade de Araxá-MG, que foi flagrado dirigindo alcoolizado, está repercutindo em todo... o país. O motorista não causou acidentes, mas foi pego em uma fiscalização e denunciado por dirigir embriagado. A Defensoria Pública da União impetrou habeas corpus em favor do denunciado, mas o pedido foi negado pelo STF. O ponto alto da decisão, de acordo com o psicólogo Dionísio Banaszewski, especialista na orientação, tratamento e combate ao uso de drogas, é o fato de que, por si só, ela alerta para o fato de que dirigir sob efeito de bebida alcoólica é um crime, mesmo quando o motorista não se envolve em acidentes.
Criminalizar a combinação álcool-direção é imperioso, segundo o especialista, porque chama a atenção de toda a sociedade para os riscos de se dirigir alcoolizado. “Não se pode afrouxar em relação a isso. Questionar essa perigosa combinação só quando há acidentes seria uma forma de tolerância inaceitável”, afirma Dionísio. O psicólogo lembra ainda que a decisão do STF deve ser interpretada também como uma chamada a toda a sociedade para a importância da prevenção. “É preciso investir mais em prevenção ao uso abusivo do álcool. É uma questão de mudança cultural que deve vir com um choque de informação: as pessoas precisam entender, de uma vez por todas, o risco que é dirigir sob efeito das bebidas”, argumenta.
O especialista defende que esse trabalho de prevenção deve ter envolvimento de todos os setores da sociedade, a partir da primeira escola. “A escola deve trabalhar a questão desde o ensino fundamental. As instituições sociais, igrejas, empresas... todos devem discutir de forma franca e transparente o problema do álcool e das outras drogas”, diz. E essa discussão profunda, segundo a visão do psicólogo, deve ser feita a partir de informações relevantes. “A informação é a maior arma contra o problema do álcool e das outras drogas. Mas é importante que as discussões tenham orientação de especialistas. Vemos muita gente bem intencionada, mas sem saber ao certo como agir contra o problema”, orienta.
A base para o avanço na conscientização está na educação, segundo o especialista. “Basta olharmos a divulgação do ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os países da América do Sul para percebermos que o combate a esses problemas sociais está entre os primeiros passos para o desenvolvimento. O Chile, primeiro colocado no ranking, vem combatendo o alcoolismo e a drogadição há muitos anos e já registrou avanços importantes. O Brasil está na sétima posição, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Venezuela, Peru e Equador”, conclui.
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JORNALISTA ADRIANE WERNER: adriane@adrianewerner.com.br – (41) 8863-0464Ver mais
A decisão do Supremo Tribunal Federal de negar habeas-corpus a um motorista da cidade de Araxá-MG, que foi flagrado dirigindo alcoolizado, está repercutindo em todo... o país. O motorista não causou acidentes, mas foi pego em uma fiscalização e denunciado por dirigir embriagado. A Defensoria Pública da União impetrou habeas corpus em favor do denunciado, mas o pedido foi negado pelo STF. O ponto alto da decisão, de acordo com o psicólogo Dionísio Banaszewski, especialista na orientação, tratamento e combate ao uso de drogas, é o fato de que, por si só, ela alerta para o fato de que dirigir sob efeito de bebida alcoólica é um crime, mesmo quando o motorista não se envolve em acidentes.
Criminalizar a combinação álcool-direção é imperioso, segundo o especialista, porque chama a atenção de toda a sociedade para os riscos de se dirigir alcoolizado. “Não se pode afrouxar em relação a isso. Questionar essa perigosa combinação só quando há acidentes seria uma forma de tolerância inaceitável”, afirma Dionísio. O psicólogo lembra ainda que a decisão do STF deve ser interpretada também como uma chamada a toda a sociedade para a importância da prevenção. “É preciso investir mais em prevenção ao uso abusivo do álcool. É uma questão de mudança cultural que deve vir com um choque de informação: as pessoas precisam entender, de uma vez por todas, o risco que é dirigir sob efeito das bebidas”, argumenta.
O especialista defende que esse trabalho de prevenção deve ter envolvimento de todos os setores da sociedade, a partir da primeira escola. “A escola deve trabalhar a questão desde o ensino fundamental. As instituições sociais, igrejas, empresas... todos devem discutir de forma franca e transparente o problema do álcool e das outras drogas”, diz. E essa discussão profunda, segundo a visão do psicólogo, deve ser feita a partir de informações relevantes. “A informação é a maior arma contra o problema do álcool e das outras drogas. Mas é importante que as discussões tenham orientação de especialistas. Vemos muita gente bem intencionada, mas sem saber ao certo como agir contra o problema”, orienta.
A base para o avanço na conscientização está na educação, segundo o especialista. “Basta olharmos a divulgação do ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entre os países da América do Sul para percebermos que o combate a esses problemas sociais está entre os primeiros passos para o desenvolvimento. O Chile, primeiro colocado no ranking, vem combatendo o alcoolismo e a drogadição há muitos anos e já registrou avanços importantes. O Brasil está na sétima posição, atrás de Chile, Argentina, Uruguai, Venezuela, Peru e Equador”, conclui.
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