A dependência química
representa um dos principais problemas de saúde mental, física e social da
sociedade. O que pensar de uma pessoa que se prende ao uso de uma substância
(lícita ou não) e parece incapacitado de se libertar?
Sua mente se mostra capturada pela compulsão e prazer do uso (mente-capta). A dificuldade para pensar é imensa, os mecanismos de defesa predominam, distanciando o indivíduo de si mesmo. O homem tende a enxergar os problemas sempre fora dele mesmo, preferencialmente nos outros e se distanciando perigosamente da verdade, da realidade e do autoconhecimento necessário para o seu equilíbrio mental. O dependente químico torna-se um ‘expert’ neste campo, em que predominam as manipulações, que por sua vez o afastam das pessoas mais significativas da sua vida, consequentemente agravando sua relação com as drogas. Então, uma espécie de “Torre de Babel” toma conta da vida do paciente e da sua família e, para piorar, frequentemente o quadro é acompanhado pela desesperança e descrença nas mudanças necessárias para que haja recuperação.
A internação – melhor seria a expressão ‘ação interna’ – representa uma oportunidade e possibilidade real de olhar para o interior do paciente. É um momento em que o “eu” em estado de intenso sofrimento e confusão e necessitando de atenção recebe acolhimento humano, afetivo, carinhoso e compreensivo. Assim, abrimos possibilidades para que algo realmente aconteça no interior do indivíduo, um despertar de dentro para fora. Antes adormecido no embalo de tranquilizantes, o indivíduo recebe então a oportunidade para uma mudança real, através do conhecimento possível pelo despertar do pensamento.
Sabemos que o homem também pensa através da falta, pela frustração da dor. A abstinência das drogas representa um momento oportuno para o desenvolvimento desta condição, que precisa ser aproveitado em favor do restabelecimento da saúde mental. Não existe tratamento mágico neste campo. Nenhum remédio milagroso vai substituir este trabalho que implica na reconstituição das relações humanas, da confiança, da seriedade, do respeito à verdade e da busca incessante pelo despertar e autoconhecimento.
José Carlos Vasconcelos - diretor da Clínica Quinta do Sol
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